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terça-feira, 28 de outubro de 2025
JAPÃO TROPICAL - OUTUBRO 2025
LUGARES DO CORAÇÃO – JAPÃO TROPICAL
OUTUBRO 2025
Três anos seguidos de idas felizes ao Japão, sempre no começo do outono, sempre interessante e divertido, como é, quase sempre, com o que chamo de “lugares do coração”. Viagens possíveis superando distâncias desanimadoras, aprendendo muito graças a amabilidade, limpeza e organização do povo japonês. Missão impossível para uma senhorinha de quase 70 anos, viajando por conta própria, sem falar o idioma local. Claro, com inglês fluente e experiencia extensa de viagens. Mas sem a ajuda diária dos nativos nas estações de trem, ônibus, barcos, táxis, ruas, hotéis e aeroportos esta adorável jornada não teria ocorrido, não teria sido tão maravilhosamente prazerosa como foi.
Três lugares me motivaram a voltar este ano: Naoshima, Kobe e Okinawa. Com o apelo dos últimos dias da Expo Osaka 2025, primeira parada japonesa.
Comecei por Osaka, cidade que a cada vez gosto mais, apesar de não ser bonita e nem ter grande apelo turístico. Voei Dubai-Osaka, boa ideia com a Emirates e já direto a Expo, sensacional! Tive uma prévia na Japan House em São Paulo, sobre a Exposição Mundial que este ano ocorreu em Osaka, pela segunda vez. Nunca estive até então em tais eventos, em geral caros e difíceis de navegar, tipo Olimpíadas ou Copas do Mundo. Também nunca tive grande interesse por isso, pois não sou adepta de esporte algum. Talvez por isso, a Expo Osaka me atraiu; por ser no Japão, por ser sobre arquitetura sustentável, possível, acolhedora de maneira gigantesca, enfatizando simplicidade, bom senso, tecnologia e nada de luxo.
Os países expositores, em grande maioria, gastam muito dinheiro no marketing de seus potenciais turísticos e econômicos, culturais, gastronômicos, com toque políticos e ufanistas aqui e ali. Tudo muito interessante e grandioso, o pavilhão do Brasil bombando e filas enormes para quase tudo, até para tomar suco Maguary e as óbvias poções de açaí e cafés variados. Porém, para uma pessoa viajada como eu, a visita não seria justificável sob o aspecto de “conhecer outros países sem pisar neles”, pois já estive ao vivo e a cores na maior parte deles. O grande apelo para mim, o que me maravilhou e entusiasmou, foi o enorme círculo da Expo Osaka, o Grand Ring; estrutura de madeira, tipo Lego gigante, de uma simplicidade e sensatez nunca vistas, abraçando todos os pavilhões e possibilitando vistas espetaculares das passarelas superiores, uma espécie de High Line japonesa, mas circular, com circunferência de dois quilômetros. Uma caminhada sensacional, cercada de jardins e efeitos visuais que pareciam flutuar em volta dos pavilhões, do gigantesco porto de Osaka, do mar e das montanhas da região.
Não precisou mais nada, valeu a viagem! O propósito da estrutura foi simbolizar união através da diversidade e os efeitos de luz à noite pareciam coisas de outros planetas. Bem, o Japão é quase um planeta a parte no seu desenvolvimento e sensatez. Coisas que eles aprenderam a duras penas através de guerras e séculos de problemas e duras lições. Aspecto que me levou a Okinawa, o extremo sul do arquipélago japonês.
O Japão é um país pequeno em território, mas bem extenso de norte a sul, indo da Rússia até a China, portanto muito diverso. Estive em Hokkaido, no norte, no ano passado e quis muito visitar o sul, Okinawa, o que ocorreu agora.
Okinawa é o Havaí japonês, quente, úmido, lindas praias, mar azul e vegetação deslumbrante. O povo é mais informal, se vestem mais como cariocas do que como os ascetas elegantes de Toquio, tem um ritmo de vida mais tranquilo do que no resto do país, onde trabalham e correm o tempo todo. Por isso, Okinawa pertence a lista das Blue Zones, onde índices de longevidade são altos como na Sardenha ou Grécia. Vida tranquila, comunitária, boa alimentação e padrão de vida. Não tem segredo. Já estive em todas as Blue Zones e clima quente, brisa do mar, falta de estresse e bons papos fazem as pessoas viverem mais e melhor. Sem luxo, com qualidade e condições sócio econômicas decentes. Coisa que no Brasil, temo, jamais ocorrerá...
O que vi de Okinawa foi a ilha principal de mesmo nome e sua gostosa capital, Naha. Dois tours organizados em ônibus com guia falando praticamente só japonês, de 11 horas cada, em dias consecutivos, me possibilitaram conhecer o resto da ilha e as belas florestas e o aquário que é considerado um dos mais importantes do mundo. Legal, mas não tão incrível como o de Osaka. Há lindas praias de areia clara por toda parte, mas pouca gente nelas. As 160 ilhas do arquipélago do sul têm uma população de cerca de 1.5 milhões de habitantes, deserto perto dos 120 milhões aglomerados no resto do Japão. Em Naha visitei museus de história e arte maravilhosos, me deliciei com as frutas de lá, com o limãozinho pequeno e feio cujo gosto é delicioso e cujos supostos benefícios para a saúde são quase mágicos. Anotem o nome do milagre: shikuwasa.
Mas em termos gastronômicos, o melhor mesmo, para quem gosta, claro, é o sashimi do Fish Market, o pequeno mercado de peixes fresquinhos, a beira mar, similar ao de Tóquio, mas bem menor e super agradável. Vieiras, atum e salmão crus, antes das 9 da manhã e uns golinhos da cerveja icônica de Okinawa, a Orion, são um café da manhã exótico e maravilhoso! Tem louco/a para tudo...
Umas das experiencias mais marcantes em Naha foi a visita ao antigo quartel da marinha japonesa e o memorial triste da Batalha de Okinawa, onde milhares de japoneses perderam suas vidas para a insensatez da guerra com os americanos. O monumento, túneis, museu, vídeos, tudo super interessante. Está instalado em meio a um parque bonito e verde, no topo de uma colina, com vistas belas da ilha. Imperdível. Bem como o castelo Shurijo, o cartão postal do lugar. Foi quase todo destruído na Segunda Guerra Mundial, mas agora está esplendoroso e restaurado, magnífico em seus toques mais chineses e vermelhos do que propriamente japoneses e seus dragões ameaçadores que parecem engolir o telhado principal. O mausoléu de antigos líderes locais, parte do complexo do castelo, é o toque japonês e discreto contraponto ao vigor assertivo do castelo.
Caminhar por Naha é ver tudo isso, todas as atrações acima citadas são caminháveis para quem enfrenta o calor e as colinas. Vale o esforço. Na cidade não há praias e para quem quer aproveitar isso, é necessário sair de lá ou tomar barcos a outras ilhas. O que vi em termos de hotel de praia, não é exatamente a “praia” dos brasileiros. Hotéis muito grandes, sem charme, pequenas praias perto, cheias de gente mais vestida do que em trajes de banho. Para mim não importou, pois eu não iria tão longe para fazer vida praiana. O lado sócio cultural do Japão é bem mais interessante.
Antes das seis noites no sul do país e ainda baseada em Osaka, visitei Kobe e Naoshima. A primeira é relativamente pequena e charmosa, muito agradável e bonita. Comi o famoso Kobe beef no estupendo hotel Oriental, com direito a bolinhos de caranguejo escuro de entrada e o melhor e mais leve cheesecake da minha vida como sobremesa. Compensou o investimento. Kobe é 10 minutos de trem bala, meu amado Shinkansen, de Osaka. Na estação de trem você já pega um ônibus turístico verde e antiguinho e conhece tudo em uma hora de percurso. Depois, caminhadas e show de jazz grátis na praça. Delícia...
Por último, escrevo sobre Naoshima e meu encanto pela ilha das artes, tão famosa no mundo todo. Adorei, quero voltar, pois há várias ilhas na região chamada Inland Sea, mar interior, perto da feia cidade de Okayama. Bom, perto, não é bem o termo, pois Naoshima é uma ilha longe de tudo, parte de um grupo de ilhas que eram bonitas e foram degradadas por poluição industrial de vários tipos. O Grupo Benesse, fundação japonesa de grande porte, recuperou tudo, engajou os poucos gatos pingados que moravam nas ilhas a se interessarem por arte e trabalharem em prol de um turismo que visa única e exclusivamente arte. O resultado é magnífico e há vários museus interessantíssimos, arquitetura do icônico arquiteto japonês, Tadao Ando, com acervos e mostras geniais. É por lá que ficam pairando entre o mar e a terra as abóboras de Yayoi Kusama, os símbolos tão conhecidos de Naoshima.
Mas, apesar de toda minha experiencia percorrendo nosso pequeno planeta, cometi o grave erro de pensar que Naoshima era Hakone ou Inhotim e passei apenas algumas horas ali. Frustrante. A ilha é grande, montanhosa, difícil de percorrer só a pé. Para os bicicleteiros, um paraíso. Não há quase outro tipo de transporte e só pude ver mesmo o New Museum, espetacular, seu ótimo restaurante, vistas lindas e a vilazinha pitoresca e super japonesa, Honmura. Pouco. Mas para ver tudo e as outras ilhas onde também existem várias das obras de arte importantes, é necessário, pelo menos 4 dias.
Ver tudo isso com calma e bom planejamento, voltar a Kanazawa e Takayama, será meu presente de aniversário dos 70 anos que completarei em janeiro. Bem vividos.
E viajados!
São Paulo, 28 de outubro de 2025
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
LONDRES SHOW - SETEMBRO 2025
LONDRES – LUGARES DO CORAÇÃO – SETEMBRO 2025
Cinco dias nesta cidade querida e interessante após 13 na chata Irlanda. O contraste não poderia ser mais marcante e Londres ganha fácil.
Minha segunda vez este ano, com direito a duas peças teatrais que já havia visto anteriormente, mas que valeram a volta, coisa que raramente faço: a hilária The Book of Mormon, em versão britânica ainda melhor do que o original americano. Witness for the Prosecution continua a surpreender, a mágica de Agatha Christie que envolve, mesmo a gente já sabendo do desfecho do final da história.
Como fui com meu marido, que não conhecia Londres, turistamos no busão Hopp On Hopp Off, nas caminhadas clichê pelo Big Ben e palácio de Buckingham e de novo na London Eye. O toque de novidade ficou no Churchill War Rooms e a história fascinante da participação britânica na Segunda Guerra Mundial.
Também embarcamos no Uber Boat com destino a Greenwich, visitando os maravilhosos museus que mostram o esplendor da marinha e ciência britânicas. Com direito a comida ruim de pub e whisky na hora do almoço. Visitar o lugar por onde passa a imaginária linha do Meridiano de Greenwich é uma experiencia singular e imperdível. Nada com viver história no lugar em que foi criada...
No campo gastronômico continuamos apostar nos indianos Masala Zone e Farzi e desta vez a culinária excelente, bem inglesa e super moderna do Old Queen Street Café nos surpreendeu e encantou. Bem pertinho da prefeitura de Westminster, o coração da cidade.
Uma circunstância inesperada de longa greve do metrô londrino, acabou sendo um raio X involuntário da cidade, pois as ruas estavam lotadas de gente, ônibus idem e pudemos observar a ‘verdadeira’ Londres, repleta de imigrantes africanos e asiáticos. Uma versão da Commonwealth na vida real. Com direito a muçulmanos orando em plena Oxford Street e música levantina acompanhando. Algo a se pensar na capital do Império Onde o Sol Nunca Se Põe, como era conhecido o agora alquebrado Império Britânico, que mesmo sem a antiga glória é um dos lugares mais intrigantes deste nosso sofrido planeta.
São Paulo, 17 de setembro de 2025
Irlanda - agosto e setembro 2025
IRLANDA VERDE E TEDIOSA – AGOSTO/SETEMBRO 2025
Sempre tive curiosidade em conhecer a terra de James Joyce, de Pierce Brosnan, de Cillian Murphy. País celeiro de grandes artistas em diversas áreas, da icônica cerveja Guiness, da influência enorme no inglês falado nos Estados Unidos, de fomes épicas que moldaram Nova York e Boston, por exemplo. Tudo nas minhas expectativas sonhadoras e irrealistas da minha fértil imaginação. Mais um país” inventado” por mim...
Na realidade, a Irlanda é um país de fazendinhas bem cuidadas, vaquinhas e carneiros e um clima pavoroso onde chove o tempo todo. O grande verde tem seu preço e foi o último país europeu que me faltava conhecer. Valeu, mas não voltaria. Dublin, que eu sonhava ser uma cidade mítica e fascinante, na verdade é uma cópia pequena e perrengue de Londres, com comida ainda pior do que a britânica e whisky não tão bom quanto o escocês. A capital do país perde de longe para a vizinha Edimburgo, por exemplo e é de chorar de mixuruca se comparada a Londres.
Cork é razoável e só gostei mesmo de Galway, na costa oeste. Alegre e bonita, movimentada e povo muito aberto e falante, a cidade a beira mar é uma festa constante de música e bares. Aliás, povo e música são as melhores coisas da Irlanda.
As paisagens de falésias e penhascos é bonita, alguns sítios arqueológicos são muito interessantes, como Newgrange e Glendalough. Mas alerta aos sonhadores, que como eu esperavam maravilhas e mistérios da antiga cultura celta pululando por toda parte. Ledo engano, visto que a maior parte de igrejas, monastérios, monumentos e sítios arqueológicos é uma amontoados de pedras cinzentas, que, no máximo, dão um ar Game of Thrones aos lugares, mas acaba sendo quase monocromático com céu quase sempre cinzento, bruma, chuva, ventos furiosos, ruínas também cinzas e o verde eterno. O mar é escuro e bravo, falta colorido e contraste. E falta muita restauração, pois tudo foi desabando com o passar do tempo, tornando o entorno algo melancólico e triste.
Por isso os grandes escritores e produção cultural farta: o lugar é um tédio e usar a imaginação foi o que restou aos simpáticos e talentosos nativos.
São Paulo, 17 de setembro de 2025
domingo, 29 de junho de 2025
SARDENHA MAIO 2025
SARDENHA - MAIO 2025
Demorei mais de um mês após minha volta da Itália, para escrever sobre esta ilha italiana tão bonita. Por que será? Na certa gostei muito do lugar, mas não o percorri da maneira adequada. Fui numa excursão que apesar de divertida, não é o modo correto de se conhecer um lugar tão rico em história e natureza, pois a Sardenha é um paraíso de paisagens e relaxamento, de vegetação harmoniosa, de um mar deslumbrante que não combinam com as chatices de horários e correria de grupos. Também fui em maio, mês ainda frio para aproveitar mar e praias. Portanto minha experiencia foi uma mistura de encantamento e certeza de que em outra época do ano e de outro modo, minha viagem teria sido bem melhor.
O percurso ideal é de carro, sem pressa, com pelo menos duas semanas para ir parando em praias e cidades históricas. Também não concordo com a maioria dos turistas de qualquer nacionalidade, que só quer ir a Porto Cervo e arredores, lagartear ao sol e ignorar todo o resto. É o que fazem os alemães, por exemplo. Nem balneário e nem pacote turístico na minha opinião. A Sardenha deve ser conhecida e percorrida de maneira independente, como fizemos na Sicília no último inverno. Na Sicília, existem trechos que se pode visitar de trem, o que ajuda muito. Na Sardenha, esta opção é inviável. Só carro ou ônibus. Começando pela capital, Cagliari.
Pequena, compacta, bonita, verde, histórica e caminhável, Cagliari é muito agradável e seus museus, especialmente o de Arqueologia, são uma perfeita vitrine e introdução ao povo nurágico que ali viveu, muitos e muitos anos antes de Cristo. Pouco se sabe sobre eles, mas suas interessantes construções, os nuragues, espalhados por toda a ilha, são torres misteriosas e intrigantes. Suas pequenas esculturas dão uma ideia do nível de refinamento deste povo tão antigo. E pouco conhecido. Começar por Cagliari introduz a ideia de que há muito mais para ver e conhecer na ilha. E há mesmo. Tudo misturado a praias lindas, ao mar que está mais para Tahiti do que Itália, de rochas e picos estonteantes, tudo cercado de civilização e boa mesa.
Outros pontos históricos importantes e interessantes: Alghero, Santa Teresa Gallura, Nora, Olbia, Palau.
O vinho Canonau é bom e estranho, bem como a massa típica que é uma espécie de minhoca borrachenta (nhoque sardo) envolta em poderosos molhos com bastante carne. Os sardos são bastante carnívoros e seus carboidratos são todos feitos de um trigo duro e muito saudável. Com altas taxas de longevidade, principalmente entre os homens, a Sardenha é conhecida como uma das Blue Zones. Bobagem inventada por um americano e viralizando por todo mundo, tentam explicar o inexplicável fator da longevidade. Para mim, que já estive em todas as Blue Zones, só vejo uma coisa em comum: vida simples e falta de preocupações. Não esquentar a cabeça é o melhor remédio.
Na Sardenha a vida é uma tartaruga e se move só o necessário. Tudo fecha, impreterivelmente entre 13:00 e 17:00 (saco máximo para os turistas) e vender e fazer caixa parecem ter importância secundária. Bem secundária...
O queijo pecorino, maravilha feita com o leite das ovelhas locais, está em doces e salgados por toda parte, o tempo todo. Bem como biscoitos de laranja e outros docinhos interessantes. Vi poucas frutas e verduras, quase nada de saladas. Os hábitos sardos são bem diferentes do resto da Itália e a comida e vinhos, que adorei, não são consenso entre os turistas. Não é coisa fácil e atraente como na Sicília, por exemplo.
Para mim, fiquei com a impressão de que a Sardenha é uma mistura de natureza esplendida e mistérios históricos, de vida tranquila e de um povo que está totalmente na deles, sem qualquer preocupação de marketing ou consumo. Visitar na mesma vibração é garantia de um passeio lindo e bem diferente. Para mim não é um lugar típico italiano.
É sardo. Com sua língua que é idioma e não dialeto, com uma atitude própria e exclusiva. Não parece Grécia ou Malta, nem Itália ou Sicília.
É Sardenha.
São Paulo, 29 de junho de 2025
sábado, 28 de junho de 2025
PERU AVENTURA PERIGOSA - JUNHO 2025
PERU AVENTURA PERIGOSA – JUNHO 2025
Minha quinta vez no país não decepcionou, mas cansou, pois o Peru não é para amadores. Interessante, vibrante, colorido e cheio de história muito antiga e movimentada. Sem dúvida, o país sul-americano com os sítios arqueológicos mais importantes e um dos berços civilizatórios da humanidade, junto com México, Mesopotâmia, Egito, Grécia, Índia e China. E não é só a Machu Pichu e arredores a que me refiro e sim a todo um magnífico conjunto de cidades que representaram civilizações perdidas, como Chavín de Huántar, Caral, Chan Chan e várias outras.
Desta vez fui seguindo os passos de meu amado escritor Mario Vargas Llosa pela costa peruana que desconhecia, inspirada por seu bom humor e conhecimento de seu país natal e fui conhecer a cidade mais antiga das Américas, com cerca de 5000 anos de idade, sítio ainda mais antigo dos que os egípcios, impressionante. Através de um dos últimos livros de Vargas Llosa soube a existência de Caral e como foi descoberta, há apenas 31 anos, por Ruth Shady, uma arqueóloga peruana. Mulher de coragem, lutou por financiamento e contra espúrios interesses imobiliários e o que se pode visitar hoje são incríveis pirâmides, praças, residências, uma cidade inteira, bem como nas areias egípcias, preservada por lugar seco e isolado.
Tudo está bem preparado ao turismo, guias locais integrando as populações da região com a rica história dos arredores, boa infraestrutura. Como tudo no Peru, o acesso não é fácil. Estradas ruins e perigosas não ajudam. Distancias brutais idem. Aliás, viajar no Peru é um massacrante sacrifício de voos pela madrugada, acessos péssimos, violência pairando por todo lado, banheiros nojentos e total irresponsabilidade de operadores turísticos aliados a governos absurdos. Tudo bem pior do que no Brasil...
Mas vale arriscar sua sanidade mental e integridade física para conhecer maravilhas únicas, que não podem ser vistas em qualquer outro lugar do mundo pois só existem lá. Made in Peru. O melhor, sempre, é tentar contratar transfer confiáveis, operadores de maior preço e reputação, hotéis idem. Fazer economia no Peru é furada e extremamente perigoso. E nem se informando bem e gastando dinheiro a coisa é garantida. É só examinar a história dos últimos governos do país, do Sendero Luminoso, do Fujimori, do suicídio de Alan García e episódios do gênero.
Vamos lá nos detalhes do périplo:
1- Em uma semana enfrentei 3 voos de madrugada, o trânsito pior do mundo em Lima e suas costas norte e sul (São Paulo e Nova York perdem para o pavor dos congestionamentos peruanos).
2- Dois passeios em dois dias consecutivos, um partindo do hotel as 04:45 e voltando as 22:30 e o outro partindo as 05:00 e voltando as 18:30. Tudo por causa do trânsito, clima, acidentes variados.
3- Também encarei um terremoto em Lima, o mais forte desde 2007. Nenhuma orientação ou ajuda, a vida que segue...
4- Na sequência, não pude caminhar pelo belo e interessante centro de Lima, tive que fugir correndo e chamar o Uber Black pior da minha vida dentro de um bar fedorento; repleto de policiais furiosos fechando todas as ruas por causa de protestos violentos; protestos que dois dias depois me forçaram a sair da cidade para o passeio a Caral as 5 da manhã para evitar a violência. No trajeto, sob neblina intensa, tivemos que parar no meio da estrada para ajudar as vítimas de um medonho acidente rodoviário entre 3 ônibus. Com vários mortos e feridos. Um horror...
5- Horror máximo nos perigosíssimos passeios pelas dunas monumentais em volta do Oásis de Huacachina. O lugar é lindo, mas os passeios são montanha russa real, com carros em questionável estado de manutenção, enferrujados, motoristas loucos, tudo sem o menor critério e total irresponsabilidade. É tipo o balão de Santa Catarina, em que várias pessoas recentemente morreram porque o “piloto” não tinha licença ou qualificação para voar e a Anac não certifica tais operações. Os turistas-vítimas não sabiam disso.
6- Huacachina e os buggies-mortais são a verdadeira “jabuticaba” peruana!
7- Em Huacachina é a mesma loucura e falta de juízo de operadores e governo, tudo para fazer dinheiro, pagar salários de fome aos motoristas e expor os turistas a uma atividade perigosa, extrema e sem qualquer consequência ou punição aos organizadores que ganham muito com isso.
8- E com Booking.com, Get Your Guide e Trip Advisor vendendo tais belezuras.
E para coroar a sequência, um tempo péssimo em que só vi o sol por algumas horas nos oito dias no país, pois as nuvens cinzentas, ventos gelados, chuva fina e bruma sufocante prejudicaram muito minha experiencia. Como também o recém reformado aeroporto de Lima, condizendo com o tresloucado país, onde há inúmeras lojas interessantes, bons banheiros, várias opções gastronômicas, mas pasmem: não há lugar suficiente para sentar e os passageiros se sentam e se deitam por corredores e áreas de trânsito, ao estilo “moradores de rua”, pois a Frankfurt Airport “olvidou-se” das cadeiras. Bem peruano, favelão total.
Mesmo assim, me deliciei com a maravilhosa comida peruana em Lima, desta vez no Kauza, no Awicha e no elegante restaurante do melhor museu peruano, o Larco. Só comi bem em Lima, pois Trujillo que não conhecia, é uma cidade horrorosa e brega, perigosa e com comida idem. O resto foi bem genérico nas excursões a Paracas e Chan Chan. Com exceção da vinícola Cultur Pisco que tem um restaurante que faz jus a tradição peruana de boa comida. E boa bebida!
Não volto ao Peru, já vi tudo que queria ver, já caminhei duas trilhas inca inesquecivelmente bonitas, já vi os principais sítios arqueológicos, vários deles mais de uma vez, já aproveitei as delícias gastronômicas de Lima e já comprei todos os livros de Vargas Llosa que queria. In loco e no idioma original.
Como se diz em espanhol: Ya está! Nunca Jamás!
São Paulo, 28 de junho de 2025
quarta-feira, 11 de junho de 2025
ALEMANHA - MAIO 2025 - FRANKFURT,BERLIM,COLONIA E LEIPZIG
PODEROSA ALEMANHA – MAIO 2025
Voltei a Berlim, onde iniciei o ano me embasbacando com a capital alemã. Agora, na primavera, com um clima um pouco menos rigoroso, admirei ainda mais a arquitetura e a história desta magnifica capital europeia. Especialmente no Gendarmenmarkt, uma das praças mais bonitas do mundo, recém reformada. O amplo espaço que abriga três edifícios espetaculares, com a Opera no meio, é uma ode ao estilo clássico francês que apesar da grandiosidade, não intimida, convida. A aproveitar vistas e espaços cercados pelo meu restaurante favorito, Lutte & Wenger, pelo Newton Bar e por uma sorveteria semi-deliciosa. Os dois hotéis localizados no entorno são os melhores lugares para se aproveitar Berlim de ângulos menos turísticos e estrategicamente localizados para compras no agradável Berlin Mall e acesso confortável ao centro cultural mais sensacional da Europa, que é o novo Humbolt Forum.
O lugar já foi um palácio poderoso, quase totalmente destruído na Segunda Guerra e recentemente reaberto como centro cultural. A fachada principal é deslumbrante em seu esplendor Versailles e o “recheio” é 100% moderno, abrigando vários museus etnográficos, com exibições permanentes e temporárias maravilhosas. Há cinemas, teatros, quase tudo grátis, inclusive os porões lúgubres que têm 800 anos de existência, a única parte antiga que sobrou da construção original. Paguei 7 euros para ver uma mostra de arte e não paguei para ir ao rooftop que tem a vista mais linda de Berlim, pois dá de cara com os museus fenomenais da Museum Insel. Em dia de sol, imperdível. Fica a dica de almoçar no caro e elegante restaurante, deliciar-se com as iguarias bem modernosas, a vista única sem multidão e entrada livre, pois clientes gastronômicos não pagam.
A Alemanha, com poucas exceções, não é destino gourmet e a comida local básica é fraca e o serviço é aquela “luta” de país rico europeu que emprega muito pouca gente. Como há bastante o que ver e fazer, não importa muito. É uma cidade para várias visitas e infinitas descobertas. E caminhadas super interessantes, pois a cidade é plana, fácil e segura.
Estive também por um dia na chata Köln (Colônia), que de legal só tem a divina catedral e o Museum Ludwig (ótimo restaurante) ao lado. Bate e volta de Frankfurt, fácil. Imperdível pela mega igreja que é mesmo uma das mais lindas do mundo, um show de harmonia, sobriedade e bom gosto. Com direito a vitrais icônicos do artista vivo mais valioso do mundo, Gehard Richter. A igreja, apesar de católica, não tem aquele espetáculo brega de santos coloridos e macabros de quase todas as outras. É um lugar de paz, meditação e oração. Grandiosa, mas intimista...
A curta estadia em Frankfurt valeu bastante para quem já esteve no enorme aeroporto tantas vezes e nunca havia, até então, saído dele. Moderna e elegante, é mais para Nova York do que Londres, repleta de engravatados e poucos turistas. Vi um concerto na Opernhaus, como sempre na Alemanha, de qualidade imbatível e preços camaradas. Música é parte da cultura germânica e foi com este espírito que escolhi visitar a terra de Bach, Leipzig.
Leipzig tem história conturbada e sofrida com tantas guerras e dominação soviética, mas é uma fênix oriental, estilo miniatura de Berlim. Acessível, repleta de parques e lagos, música todos os dias nas igrejas e teatros, tudo referenciando Bach e esta cidade onde viveu por tantos anos. Há um museu interessante sobre este grande compositor e ele está enterrado numa bonita igreja ali perto. Sua lápide espartana é parte do altar, uma bonita homenagem a quem compôs músicas celestiais como ele. Claro que concertos ali são uma experiencia de vida, custando nada, ou quase.
A reconstrução de Leipzig é uma das coisas mais impressionantes dali, ora moderno, ora antigo, sempre harmoniosa e de bom gosto. A grandiosa Opera da cidade é outra maravilha antiga-moderna que funciona muito bem. Até o zoológico vale a pena! A cidade é fora de mão, mas se estando em Berlim o trem ameniza a distância e é perto de Dresden também.
Como nada é perfeito, muito menos em viagens, não custa lembrar a incautos brasileiros que o clima, como Berlim, é péssimo 10 meses ao ano. Superando isso, prepare o guarda-chuva, as galochas e casacos e divirtam-se!
Não esquecendo também que o povo da ex-Alemanha Oriental é ainda menos “fofinho” do que todo o resto do país...
São Paulo, 11 de junho de 2025
terça-feira, 6 de maio de 2025
MICO BUENOS AIRES - ABRIL DE 2025
MICO BUENOS AIRES – ABRIL 2025
Estranho título sobre uma cidade amada que frequento desde meus distantes 16 aninhos de idade e onde, nos últimos 14 estive mais de 20 vezes. Sempre adorei e moraria lá fácil se ela não estivesse localizada num país tão louco como é a Argentina. Mais louco do que o Brasil, pois já foi um dos 5 países mais ricos e desenvolvidos do mundo e Buenos Aires sempre foi um espelho desta pujança. O nosso querido e tumultuado Brasil, por sua vez, jamais chegará aonde a Argentina chegou, infelizmente.
A queda da Argentina não é novidade, um processo amargo de mais de 75 anos de governos desastrosos. O presente, do insano Javier Milhei, é apenas mais uma tentativa tresloucada de consertar o irreparável.
O mico do título é um alerta a brasileiros incautos querendo passar férias na Argentina e o que vão encontrar? Preços altíssimos, coisa de Primeiro Mundo, mas com o serviço, insegurança, imundície e falta de infra estrutura de Terceiro Mundo. O presidente, por decreto, alterou o cambio do peso e tudo ficou muito caro para os argentinos e para os estrangeiros. Vai salvar a pátria com isso? Duvido...
Estive na cidade em julho do ano passado e os custos ainda estavam razoáveis. Agora estão ridículos: bifes a 450 reais, táxis do Aeroparque a Recoleta três vezes mais caros do que uma corrida de Congonhas ao Itaim e por aí vai. Foi do baratíssimo ao absurdamente caro em menos de 16 meses. Os turistas sumiram e os argentinos parecem querer gastar suas reservas em dólares em bares, restaurantes e viagens ao exterior. Como dizia o brilhante Vargas Llosa, a Argentina é um país suicida.
Isso posto e olhando o que segue muito bom:
1 – Don Julio. Mais maravilhoso do que nunca, sem fila, reserva fácil pois os preços assustam e com uma salinha nova e aconchegante que aumentou o exíguo espaço da casa em 8 mesas. Vale o que cobra.
2 – Mirasol de Puerto Madeiro, excelente custo-benefício. Bis idem.
3 – Pizza Cero e Edelweiss seguem firmes na qualidade e os preços não assustam tanto.
4 – Cena Teatral e Musical segue ótima e as entradas apesar de custarem em média 50% mais do que no Brasil, apresenta qualidade bastante superior.
5 – Fujam do Lima Nikkei, do El Estrebe e do Eulagen. Preços e qualidade foram para o espaço. Até no Corte Comedor as coisas decaíram em termos de serviço e qualidade dos pratos.
6- Malba continua lindo e interessante, o CCK é agora Palácio Libertad e os espetáculos bons e grátis seguem firmes. O PROA sobrevive incólume na Boca, mas o resto do entorno Caminito não mudou no feio e perigoso.
Aí que está: se paga muito para ver uma linda cidade, de parques e edifícios monumentais, suja, perigosa e repleta de moradores de rua. Com os táxis piores do planeta e serviço de Uber sofrível.
Não volto tão cedo. Enjoei dos perrengues argentinos. Que eram mascarados pelos custos legaizinhos que nos faziam sentir ricos e poderosos. No más!
São Paulo, 6 de maio de 2025
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