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sábado, 2 de março de 2024

NAPOLI - FEVEREIRO 2024

NAPOLI – FEVEREIRO 2024 Muita gente vai a famosa Capri e pula Napoli, porto de chegada e conexão para a ilha descolada. Turistas lotam as maravilhosas ruínas de Pompéia e ignoram, injustamente, uma das cidades italianas mais fascinantes que já conheci. Sempre tive curiosidade de conhecer aquele lugar cujas varandas são varais e os moradores secam suas roupas al fresco, com impunidade. Também queria ver os lugares mencionados por Elena Ferrante em seus ótimos livros, queria ver os cenários escabrosos da série Gomorra. Para mim Napoli era um lugar de medo e mistério, perigo em toda a esquina. Na verdade, adorei Napoli e nem tanto a badalada Capri, que não se compara a similar, Taormina, na Sicília. Tenho uma grande implicância com estes lugares de fama injustificada, só porque um punhado de gente rica e entediada considera legal. Capri é uma ilha bonita, pequena, íngreme, só. O vilarejo é mediano, tudo caríssimo. O mar é bonito, mas a área do golfo de Nápoles, é que é, realmente, espetacular e o todo, o conjunto, é o que torna tudo muito especial. Cercado de vulcões, o furioso Vesúvio comandando tudo, os outros, coadjuvantes, sempre ameaçando a área com terremotos e tsunamis. Não é só a Camorra, (nome da máfia local) que torna o lugar potencialmente explosivo. Os vulcões são os vilões naturais. A cidade é grande, barulhenta, caótica, suja e divertida. Tem uma arquitetura singular, mais para espanhola do que italiana e o burburinho e alegria das ruas é contagiante. Pessoas falam alto, gritam, gesticulam, ali a Itália é mais Itália. Se Roma é história, Napoli é o verdadeiro, genuíno e real estereotipo dos nativos barulhentos, da gritaria, das motos e vespas temerárias; coisa dos velhos filmes de Totó e Sophia Loren. Uma delícia... Tem a fama de perigosa, há uns tipos mau encarados zanzando pela cidade, mas não tive problema algum ao caminhar longamente por toda parte. Inclusive a noite, voltando tarde de um magnífico espetáculo de ópera no belíssimo Teatro di San Carlo. A casa de espetáculos no estilo clássico dourado, tipo Teatro Municipal de São Paulo, mais bonita que já vi. Engasgo ao admitir que o teatro é até mais bonito do que meu adorado Colón, em Buenos Aires. Aliás, Napoli é um paraíso teatral, há muitas casas de espetáculos, todas ativas, abertas, vibrantes, 365 dias ao ano. Vida noturna, vida de rua, é fundamental para os napolitanos, bem como o é a fabulosa culinária local. Começando pela pizza napolitana, sem igual. Roma tem o que eu chamo de pizza-focaccia; Napoli tem pizza com cara de pizza, mas com centro mole, bordas alta e deliciosamente borrachentas. Muito recheio. É bem diferente da pizza paulista e em Canela, há um restaurante que a prepara de maneira idêntica. Ou quase, pois os ingredientes napolitanos são especiais, inigualáveis. Como também o é a berinjela a parmegiana, o calzone de búfala especial, a mozzarella campeã. No capítulo doce, as tortas com fragoline (mini morangos silvestres) são um sonho... Só fui a restaurantes simples (Mattozi, um clássico), inclusive em Capri (da Pascuale), todos excelentes. Queria comida real, nada de turístico ou sofisticado. Fiquei hospedada na chique região de Chiaia, escolha acertada por ser mais limpa, mais bonita e um pouco mais tranquila. Não há nada calmo ou quieto por lá. O agito é o sobrenome de Napoli, se ela tivesse um. Passeios ensolarados no espaçoso e bem conservado calçadão da orla, são sempre pontilhados por esportistas bufando, gente papeando, pescadores trazendo seus frutos do mar fresquinhos para os curiosos observarem. E Napoli é também muita história e cultura. Nas igrejas sublimes, no museu Arqueológico que é um complemento perfeito da visita as ruínas de Pompéia, que por elas mesmo, já valem a viagem. Que é facilmente realizável, com o trem rápido de Roma até a estação Central; apenas uma hora e 15 minutos de conforto e relaxamento. E como Pompéia é espetacular e vale várias visitas, pelo tamanha e importância do sítio arqueológico, vale um bate-volta da capital italiana. Cansativo, mas totalmente viável. Mas eu não quero coisa rápida, pois há muito o que ver em Nápoles (não gosto do nome da cidade em português) e voltarei num futuro próximo para mais tempo nas ruínas, na orla, nas igrejas, nos museus. Arriscarei peças em napolitano, muito diferente do italiano, comprarei mais roupas nas lojas lindas e baratas da cidade, voltarei a ver o belo quadro de Caravaggio que é carro chefe das igrejas. Sem medo das ruas, só aproveitando os ares loucos e interessantes do berço da pizza. Uma dica prática que faz toda a diferença para os turistas temerosos e inseguros: fazer os dois roteiros do Hop On Hop Off que partem em frente ao gigantesco Castelo Novo. Para os que não gostam de trem, tomar a van da mesma empresa e passar horas divinas em Pompéia. Tudo para se ter uma ideia vaga da grandeza e beleza do local. De forma segura, confortável e... turística! Zurich, 02 de março de 2024.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

CARNAVAL EM ROMA - FEVEREIRO 2024

CARNAVAL EM ROMA – INVERNO 2024 De Carnaval não vi nada e nem precisou; Roma é uma festa em qualquer época do ano e no alívio do inverno que cobre quase todo o resto do Velho Continente em um manto branco de gelo. Mais sol, menos chuva, temperaturas menos congelantes, dias um pouco mais longos na luz da Cidade Eterna. Voltei após 8 anos de ausência e gostei mais ainda. Começando pelo hotel bem escolhido, por localização, preço e conforto, o Princeps Boutique Hotel, no ponto mais alto de Roma, a Piazza del Esquilino e pelo fato de que na primeira quinzena de fevereiro, o número de turistas é razoável (nunca pouco, infelizmente) e pude visitar o museu do Vaticano e a Capela Sistina, coisa jamais alcançada em tentativas anteriores. Vale a fila e as multidões. Pelo menos uma vez na vida compensa encarar a maratona. É um museu enorme, tipo Metropolitan ou Louvre, que abre o acesso de seus vários setores por partes. Tive a sorte de visitar o setor egípcio e o de arte contemporânea, ambos ricos, inusitados e bastante interessantes. Peças e obras lindas em ambos e a grata surpresa de admirar um pequeno Van Gogh retratando a Pietá e um portentoso Botero retratando um cardeal gorducho em solitário passeio pelo campo. Claro, a joia da coroa, entre tantos estonteantes tesouros, é a Capela Sistina. Grande sala adornada pelas famosas obras de Michelangelo, que de igreja ou capela, não tem nada. É um quadro gigante, um mural precioso, teto espetacular. Mas atmosfera religiosoa, espiritual, vibrações especiais de um lugar santo, não. Impressão muito pessoal, para mim não convida a rezar e refletir. Apenas admirar o artístico, sem o divino. Para introspecção e oração, voto na Basílica de Santa Maria Maggiore, uma ode a Deus e na Basílica de Santa Maria em Trastevere, ainda mais convidativa a meditação. Além de arquitetônica e artisticamente relevantes, tem ambas uma conexão maravilhosa com Roma e a história rica do Cristianismo. Na Santa Maria Maggiore, a visita a loggia é recomendável e dá uma dimensão mais humana e urbana da grandiosa igreja. No templo em Trastevere, um dos bairros mais deliciosos da cidade, dá para subir depois num dos pontos mais altos da cidade, o Janículo e regalar-se com vistas de cinema. Além de um bom exercício para queimar as calorias de um portentoso almoço no Vanda, um sorvete cremoso no Lucciano’s. Todas estas experiencias ficam na memória do viajante para sempre, bem como o brilho dos mosaicos perfeitos da Santa Maria em Trastevere contrastando com o escuro cavernoso deste marco de Roma. Mais arte nos afrescos de Rafael e arquitetura na bela Villa Farnesina, também em Trastevere. Lugar bonito e pequeno, jogo rápido numa cidade que tem tanto a oferecer. Inclusive em áreas afastadas do centro, como a do Parco della Música Ennio Morricone, onde assisti a belos ballets coreografados por Benjamin Millepied. Perto dali um dos museus de arte contemporânea mais descolados da Europa, o MAXXI. A finada arquiteta Zaha Hadid criou um espaço único em terreno apertado e o edifício dos museus, mesmo que fosse vazio, valeria a visita. Recheado de exposições magistrais então é show de bola. O restaurante do museu, o Mediterrâneo, com sua área externa super convidativa, completa o programão. Comida italiana moderna, ambiente alegre, repleto de jovens que estudam arquitetura ali perto. Programão melhor ainda se a volta ao centro for caminhando por uma avenida que dá direto na Piazza dei Popolo e une no trajeto o moderno de Roma ao eterno de Roma. Melhor, impossível. E Roma não é só cultura e história, sendo também o legado ímpar da comida italiana, patrimônio gastronômico da humanidade. Que pode ser almondegas de vitela e mortadela com pesto de pistache, precedidas de raviólis de ricota na manteiga e sálvia, no acima mencionado Vanda, em Trastevere. Pequeno, aconchegante, divino. Acompanhado de um belo tinto Etna Rosso. Pode ser atum com verduras no Mediterrâneo, rigattoni com rabada de boi no Matriciana (em frente a Opera de Roma), docinhos e biscoitos fofinhos da linda confeitaria Te ou marrons glacés da vetusta e importante confeitaria Moriondo e Gariglio (a preferida do poeta Trilussa). Também vale o cardápio sólido e confiável do Trilussa, não o poeta, claro, mas sim uma casa bonita e mais chiquezinha em Trastevere. Pode ainda ser um pote de dulce de leche na gelatteria Lucciano’s, para entender de onde vem esta tradição na Argentina, por exemplo. E também é válido turistar no Il Vero Alfredo e comer o maravilhoso fettuccine Alfredo (deixando espaço para o tiramissu), aquele sempre impossivelmente lotado do Epcot Center, na versão original. Tudo na harmonia do colorido urbano de mais bom gosto do universo, nos tons de bege, ocre, terra, rosa claro, exclusivos de Roma. Na música dos concertos de Vivaldi na igreja de São Paulo (a dentro dos Muros), na alegria das ruas, nos barulhos das Vespas, nas elegantes apresentações de ópera do Teatro Della Ópera de Roma. Voltaria sempre. Se não em presença física, mas repetidamente, no meu coração. Zurich, 24 de fevereiro de 2024

sábado, 10 de fevereiro de 2024

LONDRES - INVERNO 2024

LONDRES – INVERNO 2024 Fazia uns bons anos que não ia a capital inglesa no inverno e temia não aproveitar tanto como as 3 últimas vezes, no final da primavera. Temia o tempo chuvoso, o céu acinzentado, o vento que fustiga as ilhas britânicas e coisas do tipo. Mas Londres é Londres e mesmo com tempo frio e escuro, a cidade é vibrante e interessante na segunda quinzena de janeiro, tudo cheio e animado visto que a população está na cidade, nada de férias, tudo aberto, ativo, funcionando. Não tem aquele clima de ¨fim de feira¨, típico do curto verão londrino, em que os moradores se mandam em busca de praias e o que sobra nos teatros não são as produções top e sim os musicais velhos e um tanto cafonas. Fora as hordas de turistas... Janeiro é chique e discreto no vestir e falar das pessoas. É alegre e diversificado em teatros e música clássica, óperas e ballets. Exposições como as que vimos na Tate Modern são relevantes, importantes, majestosas, com público-alvo culto, nada de turistão genérico de bermuda e crocs. Capturing the Moment e o artista canadense Philip Guston tem curadorias perfeitas e preços salgados. Curioso, pois os grandes museus de Londres são grátis para todos, mas as mostras especiais custam o equivalente a 25 dólares por exposição. É uma escolha democrática, pois o acervo destes lugares, Victoria and Albert, por exemplo, é aberto e livre a todos. Quem quiser ou puder, paga as mostras especiais, uma boa solução para os museus em geral; que ao cobrar ingressos, afastam milhões de pessoas que não podem pagar por eles. É um sistema que elitiza a arte totalmente. O sistema britânico elitiza, mas bem menos. Só fui, desta vez, aos museus acima citados. Quis me concentrar nos dois, seus acervos interessantíssimos, os dois prédios bacanas, as longas e variadas caminhadas para acessar estas instituições londrinas de peso. Poucos e bons, em sete felizes dias na cidade. Muito teatro bom, restaurantes legais, outros nem tanto, companhia de amigos, comemoração do meu aniversário ali, coisa inédita até então. Como também inédito ver peça de autor e atores americanos numa cidade com tantos nativos maravilhosos. Plaza Suite, de Neil Simon, bomba por lá com Sarah Jessica Parker e Matthew Broderick. Divertida, texto muito inteligente, atuação maravilhosa do casal. Gastronomia de peso no restaurante do sexto andar da Tate Modern, com direito a vista espetacular da cidade. Comida maravilhosamente moderna, ambiente simples e descontraído. No outro lado do espectro culinário, o Jamón Jamón, no West End, oferece comida espanhola de verdade a preços razoáveis; raridade nesta cidade tão cara e na região dos teatros onde se paga muito por pratos fracos ou incomíveis, como é o caso do francês Cotes e do asiático Rose. Chiques e descolados, Nobu e Wild Tavern. O primeiro vendendo alimentos fusion (peruano, japonês e chines), o segundo, italiano com toques modernosos e lareira aconchegante no salão principal. Londres é como Nova York: muita oferta e pouca qualidade. É um garimpo constante de boas refeições, sempre um risco. Caro, mas divertido. Seguro mesmo só o departamento de alimentação da maravilhosa loja Harrod’s. Não tem erro! Zurich, 10 de fevereiro de 2024 Para Fa. Uma hostess perfeita.

domingo, 24 de dezembro de 2023

BUENOS AIRES - VERÃO 2023/2024 E UPDATES GRAMADO E CURITIBA

CIDADE PEQUENA, MÉDIA E GRANDE Update final de 2023 sobre minhas amadas Gramado, Curitiba e Buenos Aires. Cidades onde estive nos meses finais deste conturbado e violento ano que ainda não acabou, lugares tão distintos e tão gostosos. Começando por minha pequena Gramado, a mais recente e a alegria de suas ensolaradas festas de Natal. Certo que este ano as rachaduras no solo de um bairro deram margem a toda sorte de virulentas fake News, mas pude conferir que a cidade e o que ela oferece, bem como a vizinha Canela, ainda estão lá inteiras, com tudo funcionando normalmente. Sempre novidadeiras, lojas diferentes, restaurantes, atrações de parques infantis e adultos. Me restringi aos roteiros de sempre, fugindo dos turistas no La Braise, no Bistrô da Lu, no Capullo e no meu amado e charmoso Josephina. Única concessão é o Nonno Mio, favorito daqueles leitores de fake news do Facebook. O segredo na Serra Gaúcha, na longa e infinita temporada do Natal Luz, que vai de outubro a janeiro, é ir a restaurantes, parques, atrações, Lago Negro e áreas centrais, de segunda a quinta. Se estiver por lá de sexta a domingo, vá longe, aos cânions, a São Francisco de Paula e prefira, sempre, os restaurantes de Canela. Fujam da Avenida Borges de Medeiros nestes dias! Exceção honrosa feita ao Josephina, na área central dominada pelas criaturas “genéricas”, típicas do turismo de massa que assola o mundo. Como o restaurante é caro, escondidinho e não está no radar nocivo dos cafonas de plantão, é local seguro para boas refeições, mesmo a dois passos da Borges de Medeiros. Outra boa ideia é reservar uma tarde a Porto Alegre, visitar o museu Iberê Camargo, pegar um cineminha na Cinemateca Paulo Amorim e almoçar no Bah ou melhor ainda, no Forno. Sem selfies ou influencers. Aliás, a ausências destas pragas modernas da mídia social fartamente citadas anteriormente, é uma das várias razões por que gosto de Curitiba, minha favorita capital do Brasil. Limpa, organizada, interessante e cultural, minha estadia em dezembro me deleitou com o Festival de Cinema japonês no divino Cine Passeio. Com peças de teatro no Guaíra e refeições memoráveis e impecáveis no Durski, no Madeiro Steakhouse, Nômade e Badia. Desta vez o Pobre Juan e o Terra Madre decepcionaram. Um caro, o outro um tanto decadente e ruim. O Museu Oscar Niemayer sempre interessante, as caminhadas por parques e avenidas largas são um exercício gostoso. Categorizo Curitiba como cidade média neste artigo, pois a grande será minha encantadora Buenos Aires, que é bem maior. Como sempre, o espaço urbano melhor do mundo para caminhar, principalmente no final da primavera, onde os parques intensamente floridos com jacarandás e primaveras (buganvílias) e a brisa ainda freca do gigantesco Rio de La Plata, deliciam o visual e sensorial, refrescando o já eminente e onipresente verão portenho. A cidade é deliciosa na primeira quinzena de dezembro. Depois, até final de março, um forno horrível. O clima de alegria e esperança foi o toque diferente desta minha estadia de dez dias em Buenos Aires. Gente alegre, tudo cheio e movimentado pós eleição no novo e cabeludo presidente. No que vai dar, não sei, mas a sensação de alívio e triunfo por terem se librado do estorvo peronista, já vale o esforço. Torço pelos Hermanos e seu lindo país. Que na certa ficará mais caro para nós. Eu peguei o último dia de Free Shop barato, pois na segunda feira o senhor Milei já deu uma mega desvalorização no peso, para tristeza dos brasileiros que faziam a festa nos aeroportos, com tudo convertido ao peso oficial. Pena... Que seja por uma boa e justa causa e a Argentina se recupere do jugo sindicalista que atrasa o país há quase 80 anos. Museus fracos desta vez, tudo em clima de Natal e Ano Novo, ou seja: deserto cultural. Não no teatro, onde as produções estão maravilhosas e mais baratas do que nunca. A versão do Teatro San Martín de Cyrano de Bergerac é deslumbrante, a ópera moderna no Colón, Cidade Ausente é super inovadora e ousada, as produções “tabajara” do Picadero divertem muito, até com espetáculos cafonas e bem humorados homenageando clássicos do bolero. Desta vez, descobri que os restaurantes de Buenos Aires, que não sejam de comida típica, bem local, são mais fracos do que os de São Paulo. Frutos do mar, comida italiana, peruana, bem melhores na capital paulista, em Curitiba, em Porto Alegre, por exemplo. O Brasil é bem mais caro, mas melhor, em menus que fujam da carne, doce de leite, empanadas e vinho tinto, os carros chefes imbatíveis e eternos da argentina. O país sofre muito com o peso desvalorizado e tudo que é importado, mesmo do Mercosul, fica quase inviável. Concentrem-se nos lugares onde é fácil reservar, ou mesmo ir na cara de pau, sem reserva mesmo, caso do ótimo Mirasol de Porto Madero, por exemplo. Ótimas carnes e serviço, local bem agradável. Tem brazucada feia, mas em níveis razoáveis. Minhas estreias foram La Causa Nikkei, péssimo peruano em Palermo, Cauce (bonito e elegante, oferecendo comida indigna) em Puerto Madero, Parollacia Palermo, agradável, bom e caro italiano e República del Fuego, pequeno e charmoso de carnes modernosas, na Recoleta. Voltaria aos dois últimos, apesar da conta alta do italiano e da escolha errada da carne no descolado típico. Não consegui reserva no Don Julio e nem sequer no meu querido El Preferido, ambos altamente cotados e prestigiados como melhores na lista 50 top da Restaurant. Pero... Fui ao show máximo e absoluto de carnes, coisa para quem, como eu, gosta de comer boi mugindo, fanática dos cortes radicais e bem vermelhos, o Corte Comedor. Esta preciosidade foi dica de um argentino e é um restaurante fora de mão e sem nada de especial em termos de ambiente, decoração ou frequência. Serviço ok, nada de especial. Mas as carnes... Meu Deus... O tal sujeito argentino, da dica acima, me aconselhou a pedir um corte, um prato, chamado “ceja de ojo de bife”. Vi no cardápio, o item mais caro, por sinal e me arrisquei. Primeiro, empanadas de carne fabulosas, temperadas com ají, fumegantes, acompanhadas de bom Malbec – sempre respeito, de cara, casas que oferecem bons vinhos em taça a preços decentes, sinal de respeito aos clientes, é totalmente o caso do Corte Comedor. Que vai logo virar o Don Julio e não dará mais para entrar. Talvez não, pois é numa parte um tanto feiosa, obreira e longínqua de Belgrano, mais para os lados do estádio enorme do River Plate. Vaux le voyage, como dizem os franceses. Vale a viagem, em bom português. Vale até ir de joelhos, se for o caso. A carne, a tal ceja, é o melhor bovino do mundo, melhor até do que os mugidores do Don Julio. Pedi, como sempre, mal passada: a coisa vem um tição de carvão que parece incomível, mas quando se corta a “proteína” como dizem os chatos woke de hoje em dia, já se vê a cor correta, a textura e o sabor inigualáveis. Corram e se locupletem! Antes que os brasileiros e o Messi descubram o lugar. A sobremesa também vale as gordas garfadas, um cheesecake de quinotos (laranjinha azeda), portentoso. Quase ia esquecendo de mencionar o Bis, filial transada e baratinha do Aramburu, o melhor restaurante da Argentina, segundo o Michelin. Comida bem argentina e bem moderna, minha segunda vez alí e volto sempre. Perfeito custo benefício, maravilhosamente calórico na fartura de creme e manteiga na confecção dos pratos. Mí Buenos Aires querida... Minha quinta vez este ano na cidade fechou o ciclo 2023 com chave de ouro. Volto em julho de 2024. Antes de ir a Gramado de novo. Combo equilibrado entre cidade grande e pequena. São Paulo, 24 de dezembro de 2024. Feliz Natal!

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

NOVA YORK CARA, DECADENTE E PERIGOSA - OUTUBRO DE 2023

Nova York – outubro de 2023 – ascensão e queda Minha amada Big Apple vive uma fase difícil nos últimos tempos, resultado da pandemia e de administrações desastrosas dos últimos dois prefeitos. Fazia quase dois anos que não voltava e o que vi me chocou. Ruas imundas, sem-teto andrajosos e repugnantes, loucos gritando agressivos, uma fauna pavorosa, além de hotéis centenários que faliram e se tornaram abrigos de migrantes da América Central. Wellington, Roosevelt e até o venerável hospital Belevue, entre outros. Previsivelmente, os índices de violência na cidade, só crescem. Fora o custo, a cidade é hoje em dia mais cara do que Tóquio ou Zurich. Não vale o que cobra, pois a comida pode ser boa, mas o serviço é péssimo e há a quase obrigatoriedade de se dar, no mínimo e lá vem cara feia, 20% de gorjeta. A Broadway, razão principal pela qual sempre frequentei a cidade, tem poucas produções novas e nenhum nome de peso. Perde, de longe, para o West End londrino; onde se paga menos pelas entradas e a qualidade é insuperável. Museus seguem lutando, mas cenário deprimente no finado Met Breuer, que hoje abriga algumas obras da Frick Collection, mas o restaurante, que já foi o maravilhoso Flora Bar, está abandonado. Bem como o restaurante do Whitney, dando uma impressão de decadência e tristeza extremas. Fora as centenas de lojas fechadas, há anos, nunca se recuperaram da pandemia. Como nem tudo é sombra e se o viajante insistir em ir a Nova York, aqui vão as dicas positivas: 1- Hudson Park – local lindo beira-rio, em fase de finalização. A Little Island é deliciosa. 2 - Wolfgang’s – restaurante que continua bom e cujos crab cakes e torta de pecans são itens veneráveis. 3 - Lincoln Center e Carnegie Hall, mantendo a qualidade da programação 4 - PJ Clark’s e Fiorello’s sobreviveram com bravura e comida ótima. Idem para o estiloso Bar Room do The Modern, dentro do MOMA. Tudo caro, mas com serviço eficiente e amigável. 5 – Musicais, Some Like It Hot e Neil Diamond. Delícias retrô. 6 - Guggenheim, New Museum e Dia Beacon lutam por boas exposições e conseguem resultados expressivos. 7 - Cinema resistindo a onda de fechamento de todos os outros nas regiões legais de Manhattan: AMC Lincoln Centre. 8 - Cookies campeões da Levain Bakery Só. Nova York, que já foi minha cidade do coração, não me pega tão cedo. São Paulo, 01 de novembro de 2023

sábado, 21 de outubro de 2023

JAPÃO EMOCIONAL - OUTONO 2023

JAPÃO – BUCKET LIST – OUTUBRO 2023 Sempre quis conhecer este pequeno, forte e distante país asiático, mas nunca deu certo, tudo conspirava contra. No início de 2020, a pandemia destruiu nossos planos. No entanto, no conceito americano de bucket list, ou traduzindo livremente: coisas que se quer muito fazer antes de bater as botas, ou chutar o balde, o Japão era o que faltava em minha longa e feliz trajetória viageira de mais de 50 anos. No outono deste ano, consegui e com grande alegria enfrentei as muitas horas que levam ao dito país do sol nascente e adorei. Vale o jet lag, os aviões nojentamente lotados, aeroportos fedorentos, o Japão é único, especial, diferente e muito agradável. Começando por Tóquio, a maior cidade do mundo; em tamanho e em interesse, pois apesar de enorme, é um fascinante-amigável e fica-se a vontade deste o primeiro momento. Desde o ótimo trem que liga o aeroporto ao centro, tudo funciona. As pessoas são educadas e gentis e nem a barreira da língua é tão grande. Os japoneses fazem de tudo para agradar e são, de longe, o grande diferencial do país. Nunca vi gente tão educada, com tanto espírito comunitário, tão organizados. Em Tóquio, passei o segundo dia em três roteiros diferentes daqueles ônibus turísticos de Hop On, Hop Off, para ter uma vaga ideia do lugar tão grande. Compensou e nos intervalos eu ficava horas me maravilhando com os gigantescos jardins do Palácio do Imperador e a limpeza das ruas, a perfeição dos gramados, as artes de jardinagem que transformam um simples pinheiro numa árvore onde as folhas parecem mais conjuntos de nuvens, de tão bem podadas e cuidadas. Como eu já sabia que a culinária não me agradava e não seria o ponto forte da viagem, procurei restaurantes ocidentais; há vários e me deliciei com italianos de primeira linha, onde a fusão de sabores e ingredientes é genial. Ragu de carne Wagyu, maravilhosa bovina local, com espaguete e burrata, foi o prato inesquecível. Como me juntei a um grupo turístico no quarto dia, tive oportunidades variadas de provar a verdadeira comida japonesa; que não é minha praia e é bastante diferente da japonesa-adaptada que comemos no Brasil. Sempre de qualidade, mas um sem fim de sopas, caldos e arroz grudento, sempre acompanhados de coisas que deveriam se quentes e são servidas frias, tempura, entre outros. Não importa. Foi uma experiencia interessantíssima, um laboratório multicolorido de texturas e sabores. Lá descobri que a cerveja japonesa é ótima, que eu gosto de saque e o cachorro-quente é delicioso! Toquio é um enorme shopping center em formato de cidade e nunca vi lojas tão bonitas, tão interessantes, tão luxuosas. Nem mesmo para quem não aprecia tanto assim as compras, Tóquio decepciona. As vitrines são um show e o Japão não é tão caro como se imagina. Mais barato do que os grandes centros europeus ou Nova York. Tomei 19 táxis em menos de três semanas e não achei nada do outro mundo de caro. Bem melhor do que se estressar com lotados e indecifráveis metros e trens. Que adoro, por sinal, mas no Japão queria ver a rua, os jardins, a arquitetura. Com o grupo viajamos no trem-bala, simples e eficiente e em trens comuns também. São bons, mas perdem dos suíços, por exemplo. Além do esplendor de Tóquio, visitei Osaka, última cidade da viajem. Feia, mas intrigante, valeu pela arquitetura, a impressionante infra estrutura, o aquário, museus, parques, castelo e tour num galeão tipo espanhol pela baía da cidade. Também fomos a Nagoya e Kanazawa, bem como Toba, Nachi Katsuura, Kyoto e a linda Hiroshima. Que superou o trágico passado com arquitetura moderna, belos parques, rios limpos. O memorial da Bomba Atômica é imperdível e faz pensar na desesperança que é a guerra, mal do qual não nos livramos desde que existimos. Cidades menores, muitos templos budistas e xintoístas, praia e montanha, contrastes geográficos belíssimos, não deixei de aproveitar nada. Até peça de teatro em japonês fui ver, cinema francês com legendas em japonês, um parque tipo High Line nova iorquino bem descolado. Foi uma salada turística bem montada e complementar, pois o país é preparadíssimo para os viajantes desavisados e ocidentais. Só não vá se não falar pelo menos inglês básico, pois o idioma local é indecifrável. Com inglês é possível se virar de maneira independente por lá. Muitos brasileiros ou vão em grupo ou contratam guias locais. Eu tive a experiencia de uma semana totalmente independente pelo Japão e quase duas com um grupo da Freeway, excelente agência paulistana. Foi bom e o roteiro sugerido mesclou o urbano e o antigo, menor, mais intimista, de maneira perfeita. Eu voltaria ao Japão, numa próxima para conhecer Okinawa e Hokkaido, dois extremos norte e sul, um praia outro neve e voltaria a Tóquio sempre, pois amei a cidade. Naoshima também seria incluída nesta segunda exploração japonesa. Gostaria de ter visto mais de Nagoya, Kyoto e Kanazawa. O Japão é aquele tipo de pais que tem tanto a oferecer, que o tempo mínimo, mesmo assim insuficiente, são três semanas. Mitos desfeitos: O país não é caro e dá bem para fazer compras, tomar muitos táxis e comer bem. Pode-se viajar de maneira independente. O Monte Fuji é bonito, mas os vulcões chilenos e equatorianos são mais esplendorosos. Mantenha as expectativas mais para baixo quando pensar na foto cartão-postal do país. Hakone é bárbara, mas Inhotim não fica atrás. Não glorifique o estrangeiro, pois o produto nacional equivalente é poderoso. Os hotéis não têm só quartos minúsculos, tipo capsulas. São bem normais, de bom tamanho. O Japão não é a festa do sushi, prato encontrado em apenas alguns restaurantes, especialmente os localizados perto ou dentro dos famosos e limpíssimos mercados de peixes. A limpeza das ruas é impressionante e as 120 milhões de pessoas espremidas num território muitas vezes menor do que o Brasil, se comportam e levam seu lixo para casa. Não há lixeiras nas ruas, cada um é responsável por sua poluição pessoal. As privadas japonesas são uma atração à parte e algumas até falam! Bem como caixas eletrônicos e outras invencionices nipônicas. O Japão é um país de tecnologia de ponta, mas o charme do antigo que sobreviveu a tantas guerras e bombas, a doçura do povo e seu espírito solidário é o grande charme do país. Vá antes que mais guerras, bombas e conflitos de nosso conturbado mundo acabem com um dos países mais justos, civilizados, interessantes e perfeitos deste nosso solitário Planeta Azul. E, enfim, este artigo não é um relato de viagem, um roteiro de dicas. É um relato do coração, fruto de emoção e experiencia. Jornada que coroa uma série de experiencias complementares, que por fim me levaram ao Japão-pessoal. Minha vivência sem filtros ou sugestões; uma porta aberta ao seu Japão! São Paulo, 21 de outubro de 2023.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

GRAMADO COM CRIANÇAS SETEMBRO 2023

GRAMADO COM CRIANÇAS – SETEMBRO 2023 Há tantos anos vou a Gramado, tenho planos de morar lá, mas nunca havia feito programação infantil na Gramado moderna, vibrante, repleta de atrações infantis. Levei minhas filhas há mais de 25 anos, quando o máximo do legal era o Mini Mundo. E olhe lá. Voltei há cinco anos com minha neta, então um bebê de nove meses. Agora, a caminho dos seis anos, Flora e eu aproveitamos muito a farra de quatro dias que nos deixou exaustas. E felizes!! O Mini Mundo continua lá firme, mas expandido, bem mais bonito e interessante, lojas excelentes, serviço dos funcionários super bem treinados, uma delícia. E estão construindo mais uma extensão que deve ficar pronta já no final do ano. Hospedar-se ali ao lado, no hotel Ritta Höppner, dos mesmos donos, é uma farra para a criançada, um combo mais do que perfeito. Caro, no entanto. Aliás, divertir-se em Gramado não é barato devido ao fluxo constante de turistas vindos dos cantos mais ermos do Brasil e também do Uruguai – país que não tem nada remotamente parecido com esta Disney gaúcha-tupiniquim. Na estrada entre Porto Alegre e Gramado já vale a pena parar no mega complexo Alles Blau, comer ótimos sanduíches e sorvetes no Madero, entreter as crianças no Kinderpark, no trenzinho e então seguir viagem. Uma vez lá, a festa não tem fim. Neve de verdade no Snowland, onde nossas kids tropicais podem brincar, rolar e tirar fotos com o Yeti, o abominável homem do gelo. Há até esqui e snowboarding para os mais ousados. A dica é agasalhar-se bem e não confiar nas roupas vagabundas que o parque fornece, pois a temperatura dentro é menos cinco negativos e em 15 minutos já vai estar todo mundo congelado. A área de patinação no gelo é mais confortável e tem lojinhas bem legais. É um programa exótico, coisa de uma vez e está visto, não fideliza. O legal mesmo para os pequenos é a singela Aldeia do Papai Noel instalada no magnífico Parque Knorr, suas árvores centenárias e construções tombadas pelo patrimônio histórico da cidade. Adultos e pequenos se encantam com os jardins, a vista, o bom velhinho vestido de Noel e a vista maravilhosa dos cânions do Rio Grande do Sul. Talvez uma das atrações mais loucas seja mesmo a Terra Mágica Florybal, do chocolate de mesmo nome. É um “samba do crioulo doido” envolvendo dinossauros, animais selvagens, estátuas religiosas e outras bizarrices. Tudo gigante, de plástico pintado em cores fosforescentes, uma doideira. Mas as crianças se divertem e os adultos admiram a beleza da floresta de araucárias gigantes da região de Canela. Tem até cinema 7D, daqueles que chacoalham cadeira e jogam água no público, um simulador de corrida no gelo dos mais radicais. Eu saí verde no lugar, Flora nem se abalou, adorou e reclamou que tinha acabado muito rápido! Nada como a juventude... Caminhar pela avenida principal de Gramado já é bem legal para os pequenos, que se deliciam com as vitrines, lojas de chocolates, fábricas de confeitos e principalmente, com as 3 casas da Criar Amigos, onde se escolhe um bicho de pelúcia sem enchimento, a própria criança decide quão macio será seu pet fake e batiza o dito cujo. Isso sem dizer o ritual bem original da coisa toda, os vendedores charmosos e convincentes, os acessórios para os bichos e um clima de encantamento total. Flora, eu e Theo (ainda pequeno para a intensidade do lugar) na certa voltaremos e iremos a inúmeras outras atrações existentes e por inaugurar. Porque Gramado não para . Haja saúde, disposição e saldo bancário. Para Flora, a rainha absoluta do coração da vovó. São Paulo, 26 de setembro de 2023.